24 Outubro 2023
O anúncio do presidente da Comissão de Informação, Paolo Ruffini, no briefing da Sala de Imprensa do Vaticano: “A leitura do projeto foi acolhida com aplausos”. O “Documento Resumo” será divulgado na noite de sábado. Schönborn: com este Sínodo, a Europa já não é o centro da Igreja. Aguiar Retes: “Se colocarmos em prática o que falamos, haverá um caminho”. Aveline: “Agora é a semana decisiva. Nos próximos meses colheremos os frutos”. Irmã Rigon: “Vamos construir um lindo mosaico”
A informação é de Vatican News, 23-10-2023.
A leitura do projeto da Carta ao Povo de Deus foi acolhida esta manhã na Câmara com aplausos da Assembleia. A convite do Cardeal Secretário Geral Mario Grech, "foram propostas e aceitas pequenas sugestões de modificação e integração do texto, em particular no que diz respeito às traduções nas diferentes línguas: haverá tempo até às 18 horas desta noite para apresentar outras sugestões à Secretaria Geral do Sínodo. A Carta “será aprovada e publicada na quarta-feira”. Isto foi dado a conhecer por Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação e presidente da Comissão de Informação, no briefing de hoje com os jornalistas, que começou às 14h30, na Sala de Imprensa da Santa Sé, e foi apresentado pela vice-diretora Cristiane Murray.
Hoje, segunda-feira, 23 de outubro, começou às 8h45 com a celebração eucarística presidida – no altar da cátedra da Basílica Vaticana – pelo cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon, em Mianmar. Posteriormente, na XVI Congregação Geral - coordenada pelo presidente delegado de plantão, Dom Giuseppe Bonfrate - na presença do Papa Francisco (350 participantes), depois de ouvir o trecho do Evangelho de Marcos (4.26-34), os assistentes espirituais - o padre dominicano Timothy Radcliffe e a madre beneditina Maria Ignazia Angelini - e o teólogo australiano Don Ormond Rush. Em seguida foi apresentada e discutida a Carta ao Povo de Deus.
O Cardeal dominicano Christoph Schönborn, Arcebispo de Viena, membro do Conselho Ordinário da Secretaria do Sínodo, com base na sua experiência em assembleias passadas, confidenciou uma memória de 1965, no final do Vaticano II, quando tinha 20 anos e um estudante de teologia. O cardeal ouviu uma conferência de Karl Rahner e a última frase permaneceu em seu coração: “Se deste Concílio não surgir um aumento na fé, na esperança e na caridade, tudo será em vão”.
Portanto, acrescentou o cardeal, “eu diria o mesmo do Sínodo” em andamento. Como teólogo, Schönborn também participou no Sínodo extraordinário convocado por João Paulo II em 1985, vinte anos após a conclusão do Vaticano II. Quanto ao conceito fundamental de communio, disse ter a impressão de que "o que fazemos agora, depois do cinquentenário da instituição do Sínodo", consiste precisamente em perguntar-nos "como viver a comunhão na Igreja. É uma communio de fé; comunhão com o Deus triúno; communio entre os fiéis e communio aberta a todos os homens”. Como viver isso? "A sinodalidade é a melhor maneira de fazer as coisas" é a resposta do Cardeal Schönborn. Trata-se de repensar a visão da Lumen gentium, onde se fala do grande mistério da Igreja. Portanto a Igreja é um mistério, então é povo de Deus, e só então se fala da constituição hierárquica dos seus membros.
O cardeal também criticou a Europa “que já não é o principal centro da Igreja”, como se vê diariamente no Sínodo. A América Latina, a Ásia, a África e as suas Conferências continentais são os protagonistas, enquanto o episcopado europeu não conseguiu ter o potencial desenvolvido, por exemplo, pela Fabc e Celam. No velho continente, admitiu, "ficamos um pouco atrás na sinodalidade vivida. Precisamos de um estímulo." E deu como exemplo o fato de as Conferências Episcopais Europeias nunca terem dito uma palavra comum sobre a situação dos migrantes. Finalmente, uma menção às Igrejas Orientais que sempre experimentaram que a sinodalidade não existe sem liturgia. Daí o convite a valorizar uma fé que se celebra antes de ser discutida.
O cardeal Carlos Aguiar Retes, arcebispo do México, entre os presidentes delegados da Assembleia e membro por nomeação pontifícia, recordou, em espanhol, o Sínodo de 2012 desejado por Bento XVI sobre a nova evangelização, que chegou à conclusão de que a transmissão da fé estava “fraturada”: "As famílias já não eram capazes de se dirigir às novas gerações". É por isso que o primeiro Sínodo de Francisco foi dedicado às famílias, que são fundamentais neste sentido. E é importante trabalhar com eles para chegar aos jovens, aos quais foi dedicado o subsequente Sínodo de 2018. Falando sobre sua experiência com as novas gerações da arquidiocese de Tlalnepantla, onde foi pároco antes de se mudar para a capital do México, relatou ter mantido encontros com jovens de diferentes classes sociais, com vistas a um diálogo que visasse promover a amizade além limites de classe. Portanto, o anseio pela fé deve ser transmitido através dos jovens que vivem a própria fé.
Depois, continuou o cardeal mexicano na sua reconstrução, o Papa Francisco convocou-o para o Sínodo dedicado à Amazônia. E refletindo sobre a importância das alterações climáticas e da proteção da criação, percebemos que era importante poder contar com a sensibilidade ecológica das crianças e dos jovens. Portanto, eles devem ser ajudados a compreender a Palavra de Deus sobre estes temas. Por fim, o cardeal falou sobre o processo sinodal na arquidiocese da Cidade do México, que ele gostaria de ter feito antes da pandemia, mas que devido à covid-19 foi adiado a partir de outubro de 2021. Uma experiência de visitar as realidades locais,
com método baseada no consenso, no diálogo e na escuta mútua, cujos frutos foram partilhados para responder às necessidades da sociedade; porque – concluiu – “o caminho da Igreja é a sinodalidade”.
O cardeal Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, no Sínodo como membro por nomeação pontifícia, eleito na Comissão para o Relatório Síntese, começou por expressar os sentimentos que o acompanharam na sua primeira experiência no Sínodo: "Alegria por uma nova aventura, curiosidade em conhecer pessoas de todo o mundo, com quem houve troca mútua de experiências; mas também preocupação com as notícias de guerra que aqui chegaram no início dos trabalhos e que continuaram com o passar dos dias”.
Diante de acontecimentos tão dramáticos, sublinhou o Cardeal Aveline, “a Igreja deve assumir a responsabilidade de difundir ainda mais fortemente a mensagem do amor de Deus em todo o mundo”.
Outro sentimento foi o de apreensão pelo fato de “no meu país nem todos aderirem ao processo sinodal e por isso há margem para avançar” para envolver mais pessoas neste caminho partilhado. Isto, reiterou o cardeal, “está suscitando muitas expectativas sobre as nossas decisões finais que refletirão a nossa responsabilidade comum”.
Esta, concluiu, será "uma semana decisiva, em que viveremos fases importantes, tentando chegar a acordo sobre vários assuntos e aplainar diferenças. Os próximos meses que nos aguardam serão os meses em que colheremos os frutos que plantamos.”
Em seguida, falou Irmã Samuela Maria Rigon, superiora geral das Irmãs da Santíssima Mãe das Dores, professora da Pontifícia Universidade Gregoriana, que participa do Sínodo como membro por nomeação pontifícia. “Na oração aceitei como apelo de Deus para ser chamada ao Sínodo, como mulher batizada, cristã, consagrada”, afirmou. E o Sínodo revela-se “uma experiência muito enriquecedora, na qual experimento em primeira mão a universalidade da Igreja”. Uma experiência, continuou, que é "um convite à humildade; e meu ponto de vista é apenas uma janela no horizonte que pode ajudar a construir um lindo mosaico."
"Desde ontem trouxe comigo três palavras da liturgia eucarística onde o apóstolo Paulo nos falou sobre fé ativa, esforço na caridade, firmeza na esperança em Jesus Cristo. Se isto saísse deste Sínodo, já teríamos feito uma verdadeira revolução num sentido positivo” afirmou a freira; porque, acrescentou, "recebemos uma importante semente que Deus fará crescer apesar de nós ou conosco". Sobre este princípio, a freira referiu-se ao pensamento de São Francisco: “Hoje começo a ser novamente uma cristã diferente”. Se todos fizessem isso, reiterou, “teríamos uma transformação”.
Respondendo a uma pergunta, o prefeito Ruffini afirmou que a votação, com modalidades ainda a definir, e a distribuição do Documento Síntese estão marcadas para a noite de sábado. Quanto à segunda questão – se num futuro Conclave o atual Sínodo deverá ser tido em conta em termos de conteúdo e de forma – o Cardeal Aguilar Retes explicou que se o que foi discutido e vivido for posto em prática, haverá um caminho para completar. Tudo, acrescentou, depende do que se conseguirá quando regressarem às suas dioceses.
Outra questão referia-se ao método escolhido para a Assembleia e à possibilidade de aplicá-lo na Igreja em todos os níveis, ampliando também a participação de leigos e mulheres. O Cardeal Schönborn recordou o seu discurso de 2015 sobre o tema da sinodalidade, quando, a partir do Concílio de Jerusalém, explicou que, antes de tudo, o método é a escuta, isto é, ouvir o que Deus mostra através da experiência de caminhar. A conclusão do Sínodo provém desta escuta, do discernimento comum. O cardeal disse que já estava habituado a um método semelhante, praticado na arquidiocese de Viena; e recordou, a este propósito, que desde 2015 até hoje foram realizadas cinco assembleias diocesanas com 1400 participantes, uma expressão de todo o povo de Deus. Mesmo que não tenha havido votação, disse, viveu-se a escuta e a comunhão. O importante, sublinhou, é que no final as decisões devem ser tomadas. Com efeito, o Concílio de Jerusalém tomou uma decisão fundamental para a história da Igreja; e o caminho para chegar lá é o que lemos nos Atos dos Apóstolos.
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Sínodo, publicação da “Carta ao Povo de Deus” em 25 de outubro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU